26 novembro, 2007

Comunhão

Um casamento. Ao lado da igreja, uma livraria. Na livraria, uma roda de samba. Resultado: enquanto a noiva não chegava, o noivo e alguns convidados afrouxaram os nós das gravatas, pediram uma cerva gelada e bateram ponto no pagode. Nada mais brasileiro. Nada mais carioca.

E fica ainda mais gostoso no texto do Aydano André Motta.

Horácio e Renata marcaram seu casamento para 19h do sábado passado, na Igreja Santa Cruz dos Militares, ali na Primeiro de Março. O Centro vazio e seus prédios históricos foram uma moldura mais que perfeita para a cerimônia - mas os noivos ganharam presente extra, totalmente carioca. Um mimo com a melhor cara da cidade.

Na Rua do Ouvidor que um dia foi enredo - e samba brilhante - do Salgueiro, bem ao lado da igreja, a roda de samba da Livraria Folha Seca comia solta, para festejar o lançamento do livro "Noites de segunda", do Luís Pimentel, e do disco "Malandros maneiros", de Zé Luiz do Império. Começou na hora do almoço, mas entrou pela tarde. Lá pelas tantas, pouco depois de uma seleção do melhor de Silas de Oliveira, um casal a rigor (ele de fraque, ela de longo preto) chegou e pediu uma cerveja. A eles, juntaram-se outros fraques e longos.

Algumas cervejas sedimentaram a união dos sambistas com padrinhos e madrinhas, numa festa só. A música parou por um instante, para o coro gaiato: "Horácio, cadê você?" (Ninguém se atreveu a chamar pela noiva, só tinha sambista de família.) Num dado momento, surge ele, o noivo, ainda com o colarinho protegido do suor. O grito inspirou-se nas arquibancadas: "Ih, f..., Horário apareceu, ô!" para tomar a rua. Numa cena de filme, o homenageado foi seguido pelo fotógrafo oficial da festa e o iluminador. Foram lá no meio da roda, para registrar o momento que tornou seu casamento único. O flagrante juntou sambistas e fraques, cervejas e saltos, longos e bambas, numa apoteose de filme.

O casamento atrasou - culpa do padre, que vinha de uma cerimônia na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema -, os padrinhos tomaram mais algumas cervejas e o samba entrou pela noite. Quando alguém abria a janela da sacristia, bem ao lado do paticumbum, o coro recomeçava: "Horácio!", "Renata!", "Horácio!", "Renata!"...

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