
"Eu quis falar das ausências, e não poderia utilizar outro elemento que não fosse tão nobre. Porque você não pode pensar que quem usa uma bicicleta seja um oligarca ou um militar. Quem usa uma bicicleta é um trabalhador ou é filho de um trabalhador".Traverso recorda que, durante o regime militar, os amigos que se exilavam deixavam sempre suas bicicletas penduradas nas garagens. E lembra uma história marcante que viveu.
Um dia, em 1976, devia encontrar-se com um companheiro da Juventude Peronista. Quando estavam os dois quase frente a frente, Traverso viu o colega abandonar sua bicicleta e seguir caminho, um código para indicar que havia perigo. Não se cumprimentaram, sequer se olharam. Logo em seguida, o companheiro foi seqüestrado, e permanece desaparecido até hoje. A bicicleta ficou lá, presa com cadeado.
Essa bicicleta vazia é a que todos nós deixamos. Eu também deixei a minha, na garagem de minha casa.Por isso Traverso se pôs a desenhar bicicletas pelas ruas. Traçou como meta criar 350 delas, pois esse era, segundo a Comissão Nacional sobre Pessoas Desaparecidas, o número estimado de homens e mulheres que haviam desaparecido na cidade durante a ditadura.
Ponho-as ali com a ilusão de que voltem para buscá-las.
Um comentário:
Esse cara é legal. Rosário também é legal. Você é um cara legal. Eu ando ilegal...
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