27 junho, 2007

Homo sapiens

Transcrevo o belo post do colega André Kfouri. Eu, que costumo ser cético em relação à raça humana, ainda me sensibilizo com esse tipo de coisa.
A ESPN Brasil está cobrindo a Copa América com um sistema de envio de reportagens via internet. É o mesmo método usado pela maioria dos correspondentes internacionais hoje em dia, que possibilita que arquivos de vídeo sejam transferidos por banda larga.

A economia em relação ao custo das transmissões por satélite é brutal. E pode-se enviar o material a qualquer momento, sem depender de um horário pré-marcado.

O detalhe é que o sistema não funciona se a conexão de internet não for rápida. Quer dizer, até funciona, mas uma reportagem de dois minutos pode levar horas para ser transferida.

A rede sem fio do hotel em que estamos hospedados (o mesmo da Seleção Brasileira) é boa, mas está sobrecarregada. Percebemos, no meio da tarde, que não seria possível enviar a cobertura do dia da Seleção a tempo.

Então fomos atrás de um cibercafé. Encontramos um bem perto do Centro Cívico de Puerto Ordaz, local do credenciamento dos jornalistas que optaram por receber suas credenciais aqui.

Explicamos nossa necessidade (teríamos de usar o nosso próprio equipamento, voltaríamos após o treino da tarde, precisaríamos ficar até bem depois do horário de fechamento da loja), e o dono colocou-se à disposição para nos ajudar.

Enviamos alguma coisa antes do treino, e voltamos no começo da noite, lá pelas 19h30.

Entre a transferência do material da câmera para o computador, a edição, e o envio (em pequenos arquivos, mais leves, para agilizar o processo), ficamos lá por umas 3 horas.

Os clientes chegaram e saíram (a loja fecha habitualmente às 20h00), e nós continuamos por ali, até que não restou ninguém além do dono do estabelecimento, sua mulher, a filha de 4 anos e o filhinho recém-nascido. E nós.

Estávamos preparados para pagar um extra pelo horário, mas, quando terminamos, o rapaz não quis receber nada além do tempo de utilização da rede dele.

Pagamos e perguntamos se podíamos chamar um táxi. Ele disse que não era necessário, que nos levaria de volta ao hotel.

Seguiu-se uma breve discussão, ele querendo ser gentil e nós explicando que já tínhamos sido muito bem atendidos.

A região é muito violenta, ele explicou. Com nossos equipamentos, não chegaríamos ao outro lado da rua. Olhei no relógio, quase 11 da noite. Olhei lá fora, um clima meio sinistro.

Dissemos que aceitaríamos a carona, desde que ele aceitasse que pagássemos o quanto gastaríamos com um táxi.

"Quero atendê-los bem, porque vocês são visitantes. Quero que vocês tenham uma boa imagem da minha cidade, por isso não posso permitir que corram esse risco. O que estou fazendo é uma gentileza. Se aceitar que vocês me paguem, deixará de ser."

A discussão terminou. Dizer o quê?

Entramos no carro. O vídeo-repórter João Castelo Branco, eu, o dono da loja, a mulher, a filha e o filhinho.

Passamos pelo estádio, todo iluminado por canhões de luz que mudam de cor, e a menina ficou maravilhada. Ela nunca tinha visto aquilo.

O passeio já valeu a pena, pensei.

Na porta do hotel, nos despedimos. Agradecemos e prometemos que se a Seleção voltar a jogar em Puerto Ordaz (se for o primeiro de seu grupo e passar pelas quartas-de-final, o Brasil jogará a semifinal aqui), nos veríamos de novo.

Espero que eles tenham chegado bem em casa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ô, Fausto, eu tb me comovo com essas coisas. Bacana ler isso numa manhã de segunda, espero que seja um bom sinal.